sábado, agosto 18, 2001

 
(((Cultura da Interface)))

O Complexo de DOS

CITAÇÃO

Contudo, apesar de todo o seu sucesso, a interface grafica continua sendo
mal compreendida. Em contraste com a atitude inicial de recusa, os
equivocos de hoje resultam de uma EXCESSIVA CONFIANÇA nos principios
basicos da Interface Grafica com o Usuario (GUI). Uma unanimidade tola
percorre grande parte do design de interface contemporaneo, ha' um ponto
cego no centro do campo de visao, geralmente aguda, do Vale do Silicio. Num
mundo dominado por icones e metaforas visuais, o papel do TEXTO - letras e
palavras, em vez de imagens e animacoes - ficou parecido com o de um
acessorio, um figurante obscuro num grande epico de Hollywood. As palavras,
nesse paradigma manco, sao sempre inferiores `as imagens. Qualquer um que
conheca um pouco da historia dos sistemas de escrita - especialmente a
passagem dos pictogramas, como os hieroglifos, para a grafia fonetica -
percebe algo de esquisito nesssa hierarquia. Felizmente, o distorcido
esquema de prioridades atual e' desequilibrado demais par durar muito. A
revolucao TEXTUAL podera' certamente ser o Grande Salto `a Frente no design
de interface do seculo XXI.

A aversao ao texto tem algumas raizes compreensiveis. Na linguagem da
psicologia da Nova Era, a interface contemporanea ainda esta' em
recuperacao, elaborando a sindrome pos-trauma que a acometeu desde que se
libertou da linha de comando. Os computadores comecaram como trituradores
de numeros, mas passaram a maior parte de sua adolescencia sob a tirania do
texto - todos aqueles conjuntos de comandos e instrucoes inescrutaveis
resplandescendo em monitores de fosfoto verde e inscritos em cartoes
perfurados. Em seu uso original, de fato, "interface" era apenas uma outra
palavra para texto: input inserido com o acionar de teclas, output
diligentemente transportado para a impressora ou o monitor. Todas as
linguagens importantes que governavam a relacao entre o computador e o
usuario eram baseadas em texto: BASIC, COBOL, Unix, DOS. Comparado com o
universo em mapas de bits do ALTO ou do Windows95, essas experiencias
textuais mais velhas nos parecem agora sem vida e opacas - como um filme
tecnicolor substituido por um roteiro impresso. Por que fazer qualquer
coisa com palavras na tela quando palavras foram a fonte de tanta
dificuldade nos velhos tempos? Boas interfaces exterminam o texto, assim
como psicoterapeutas liquidam lembrancas reprimidas e bloqueios emocionais.
Os comandos textuais eram a grande inadequacao dos primordios do
computador, seu calcanhar-de-aquiles - o que torna perfeitamente logico que
a interface contemporanea reaja de maneira tao adversa a palavras na tela.
Podemos chamar isso de "o complexo de DOS".

Mas, apesar de todos os avancos reais da GUI, uma nova geracao de
ferramentas de interface baseadas em texto promete transformar a
experiencia do uso do computador - desde que o mundo high tech se recupere
de sua logofobia. Podemos estar certos de que essas novas interfaces nada
terao em comum com a sintaxe desajeitada e obscura do Unix e do DOS. O
C-prompt, felizmente, continua letra morta. Em vez de obrigar o usuario a
decorar comandos misteriosos, como um escolar conjuga obedientemente seu
latim, as novas interfaces textuais vao ajudar os usuarios a navegar em
meio `a informacao tal como nossas metaforas do desktop fazem hoje. As
novas feramentas textuais vao trabalhar a servico do que David Geleenter
chama de "visao do alto", como as vistas da cidade vitoriana divisadas de
um cesto de gavea. O regime da linha de comando amarrava seus usuarios `as
minucias dos modos de edicao e da sintaxe correta. As novas ferramentas vao
ser um meio de ver o todo.

CITACAO

In JOHNSON, Steven, Cultura da Interface: como o computador transforma
nossa maneira de criar e comunicar. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001. p.
112-113.

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