quinta-feira, outubro 04, 2001

 
(((Vereador quer limitar venda de acarajés em Salvador -BA )))

LUIZ FRANCISCO
da Agência Folha, em Salvador

O acarajé, marca registrada da culinária afro-baiana, está no centro de um projeto polêmico na Câmara Municipal de Salvador que pretende limitar a venda do produto em determinados locais.

Consumido por turistas diretamente das baianas, o acarajé é um bolinho feito de massa de feijão-fradinho. Geralmente é frito em azeite-de-dendê e pode ser servido com camarão seco, além de muita pimenta.

Para manter a tradição da compra direta nas ruas, o líder do PPB na Câmara de Salvador, Wanete Carvalho, elaborou um projeto que regulamenta a venda do acarajé e abará em estabelecimentos comerciais com atividades diversificadas.

"Sem a baiana vestida a caráter, a comercialização do acarajé em postos de gasolina, padarias, bares, restaurantes, shopping center e lojas de conveniência está descaracterizando a cultura local", disse o vereador, ao apresentar nesta quarta-feira à tarde o seu projeto.

A Federação Nacional do Culto Afro é favorável ao projeto do vereador. "Os grandes estabelecimentos comerciais estão desempregando centenas de mulheres que vendiam o acarajé. Em algumas lojas, os clientes já podem comprar o produto por quilo, o que é um absurdo", disse o secretário da entidade, Antoniel Ataíde Bispo.

De acordo com o projeto que começou a tramitar na Câmara de Salvador e precisa ser regulamentado, os vendedores autônomos também devem se cadastrar na Associação dos Vendedores de Acarajé da Bahia para comercializar o produto.

O projeto prevê multa de R$ 10 mil para os estabelecimentos que comercializarem o produto "sem a presença de uma baiana".

"O que os consumidores de acarajé querem é qualidade, higiene, satisfação e não uma reserva de mercado", afirmou o presidente da Federação do Comércio do Estado da Bahia, Nélson Dahia.

Segundo Dahia, existem outras prioridades que deveriam ser debatidas pelos vereadores. "Eles (vereadores) deveriam elaborar projetos para estimular a construção civil e reduzir o desemprego."

A artista plástica Lívia Dias, 21, disse que os consumidores têm o direito de escolher o local para saborear o acarajé. "Eu não vejo graça em comer acarajé dentro de um supermercado, mas as pessoas devem ter liberdade de escolha", acrescentou.

Em Salvador, existem cerca de 3.000 mulheres cadastradas na Associação do Culto Afro para vender o acarajé nas ruas. Outras 10 mil exercem a profissão sem o cadastramento.

Por dia, cerca de 50 mil acarajés são comercializados na capital baiana, segundo levantamento realizado pela Federação Nacional do Culto Afro. "No verão, as vendas dobram", disse Antoniel Bispo. Com camarão e salada, um acarajé custa R$ 2. Sem o camarão, o preço é reduzido em R$ 0,50.

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