sexta-feira, maio 17, 2002

 

((( Coréia "clona" torcida para os adversários )))

17/05/2002

ROBERTO DIAS
enviado especial da Folha a Seul

Já que os torcedores estrangeiros não devem comparecer em peso à Copa, o jeito é "naturalizar" os próprios sul-coreanos.

Foi isso que pensaram o governo local e o comitê organizador do país para o Mundial.

Com medo da falta de apoio nas arquibancadas a algumas das 15 seleções estrangeiras que começarão a disputar o torneio em seu território, a Coréia do Sul resolveu criar 45 núcleos locais de suporte às equipes _três para cada país, um em cada cidade onde o time atuar na primeira fase.

Os sul-coreanos, que se alistam voluntariamente, deverão receber as seleções nos aeroportos, acompanhá-las em cerimônias antes das partidas, usar camisetas com símbolos dos países e estampar as bandeiras de suas equipes em casa e nos carros.

No dia dos jogos, atuarão como animadores para os (eventuais) torcedores "originais" dos países que tiverem adotado.

A idéia original era ter grupos com tamanhos médios entre 500 e 1.000 pessoas. Segundo o Kowoc, responsável pela organização do Mundial no lado coreano, há até agora 50 mil voluntários para o projeto. O órgão já vislumbra chegar a 100 mil inscritos.

A brincadeira deve custar US$ 1,1 milhão ao governo, dinheiro gasto sobretudo em subsídios na compra dos ingressos para os sul-coreanos. Em Seul, por exemplo, os voluntários receberão da prefeitura um "diploma" e um kit-torcedor relacionado a seu país.

O prefeito da capital, aliás, já fez sua escolha. No próximo dia 31, abertura da Copa, figurará ao lado de seu secretário de administração como integrante da torcida senegalesa. Do outro lado estará a França, campeã mundial.

Além dos dois países da abertura, também terão torcidas oficiais em Seul a China e a Turquia, duas seleções da chave do Brasil. que se jogam na cidade em 13 de junho.

Na ilha de Jeju foi formado um grupo chamado "Cidadãos de Jeju torcedores da seleção da Eslovênia". O governo local lançou uma campanha de arregimentação focada principalmente em estudantes do segundo grau e associações profissionais.

Ulsan, base da seleção de Luiz Felipe Scolari, também já abriu oficialmente sua "naturalização" de torcedores. Mas o Brasil não goza entre a população da mesma simpatia que encontrou, por exemplo, em 1986, no México, país em que conquistara o tricampeonato mundial 16 anos antes.

Na Coréia do Sul, uma pesquisa feita com 1.168 pessoas mostrou que, depois de sua seleção, a população local pretende torcer para a França (26% das respostas) e para a China (23%).

O país, que espera receber até 400 mil torcedores estrangeiros, quer aproveitar o Mundial para vender uma imagem de nação cosmopolita, aberta ao mundo e aos negócios. Daí a necessidade de ter nos estádios uma atmosfera que lembre a do último Mundial, na França, onde o acesso para a maior parte dos participantes era bem mais rápido e barato, o que ajudou a compor um cenário multicolorido nas arquibancadas.

Em busca de voluntários para materializar seus planos, os coreanos já criaram uma espécie de "disque-torcedor" e puseram o projeto na internet. Ele pode ser encontrado no endereço www.2002supporters.or.kr.

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