quinta-feira, setembro 26, 2002
(( Fidel dá mamadeira a búfalo para promover comércio com os EUA ))
da Reuters, em Havana
O presidente cubano, Fidel Castro, deu de mamar a um filhote de búfalo de Wisconsin e experimentou uvas passas da Califórnia na quinta-feira, na abertura da maior feira comercial cubano-americana desde a década de 1950.
Mais de 280 empresas de 33 Estados norte-americanos participam do evento, esperando reconquistar um mercado perdido com as sanções que se seguiram à revolução de 1959.
''Hoje abrimos um novo capítulo em nossas relações com Cuba'', disse Allen Andreas, presidente da ADM (Archer Daniel Midland), maior indústria de alimentos dos Estados Unidos e principal promotor da feira de cinco dias.
Em dezembro do ano passado, a ADM embarcou para Cuba o primeiro carregamento de soja norte-americana em 43 anos, valendo-se de uma liberalização do embargo por dois anos.
O governador de Minnesota, Jesse Ventura (sem partido), foi a Cuba com uma delegação de 800 empresários e agricultores de sete Estados. Para ele, o evento foi ''o primeiro passo'' na normalização das relações entre os dois países.
Fidel, 76, filho de um agricultor, mostrou interesse pelos rebanhos dos EUA. Com uma mamadeira de leite nas duas mãos, ele alimentou um búfalo de cinco meses. ''Pouco a pouco as dificuldades vão sendo superadas'', disse ele sobre as pequenas brechas que vêm sendo abertas no embargo, apesar da oposição do governo Bush.
O líder comunista disse a jornalistas que espera que os norte-americanos ''recobrem em breve o direito de viajar, e quando vierem serão sempre bem-vindos''.
Em um estande no estilo dos anos 1950, dedicado aos produtos de soja da ADM, Fidel provou o milk-shake de chocolate e as batatas fritas, mas não o hambúrguer. Ele também ganhou duas garrafas de vinho tinto e caixas de uvas passas de uma entidade que representa 5.000 viticultores californianos, preocupados com o excesso de oferta e a consequente queda nos preços.
Os cubanos só poderão visitar a feira no domingo, ainda assim se tiverem convites. Quem conseguir entrar poderá ver as marcas comuns nas casas dos EUA, como Kellogg's, Uncle Ben's, Sara Lee, Cargill e Tyson Foods.
As autoridades esperam assinar centenas de contratos na feira, atraindo interesse empresarial e político sobre a ilha. ''Espero que vocês levem de volta a mensagem de que Cuba é uma área fértil para as empresas americanas'' disse Peter Nathan, organizador da feira, que já montou eventos semelhantes na China e na ex-União Soviética.
Pedro Alvarez, presidente da agência de importação de alimentos Alimport, disse que Cuba pode chegar a comprar até 70% de seus alimentos dos EUA se as restrições, especialmente ao crédito, forem suspensas. Ele estima que até 2005 as importações de alimentos aumentem em US$ 1,4 bilhão. Desde o ano passado, Cuba já comprou US$ 140 milhões em grãos, frango e maçãs.
Reagindo à abertura da feira, o chefe da Seção de Interesses (espécie de embaixada informal) dos EUA em Havana, James Cason, disse na quarta-feira que a economia de Cuba é ''jurássica'', deve US$ 11 bilhões e não paga seus compromissos. ''Cuba está em um beco sem saída.''