sábado, maio 24, 2003

 

((Bebê que foi gestado no fígado da mãe nasce na África do Sul ))

deu na BBC


Um bebê que foi gestado dentro do fígado de sua mãe – em vez do útero – nasceu na terça-feira, na África do Sul, e foi batizado de Nhahla ou "sorte", em zulu.

Nhahla é o quarto bebê a sobreviver a esse tipo de gestação, entre os 14 casos semelhantes documentados em todo o mundo até hoje.

A criança nasceu com 2,8 quilos depois de uma operação complicada e foi entubada logo em seguida por apresentar dificuldades respiratórias. Na quinta-feira, porém, ela já respirava sem aparelhos.

A criança e a sua mãe, Ncise Cwayita, de 20 anos, passam bem.

'Milagre'

"A criança é um verdadeiro bebê milagroso", disse a um jornal sul-africano o professor Jack Krige, especialista em fígado que executou a operação de parto.

Quando um óvulo é fecundado, ele atravessa as trompas de falópio até chegar ao útero, onde ele se desenvolve.

No entanto, às vezes o embrião se fixa nas trompas, o que é chamado de gestação ectópica.

Em alguns casos – na proporção de uma em 100 mil gestações – o óvulo cai das trompas e pode se fixar em qualquer ponto do abdômen.

Em casos extremamente raros, como o de Nhahla, o embrião se fixa no fígado, uma fonte rica em sangue.

O bebê tem, então, a proteção da placenta, mas não a do útero, e corre mais riscos do que na cavidade abdominal.

Útero vazio

A maioria das gestações fora do útero são abortadas em poucas semanas.

Nesse caso, no entanto, os médicos só descobriram que o bebê estava crescendo no fígado quando fizeram um exame nesta semana.

O útero da mãe estava vazio, apesar de o parto estar previsto para acontecer em uma semana.

Cwayita foi então transferida para o hospital Groote Schuur, na Cidade do Cabo.

"Nós sabíamos que se tratava de uma gravidez fora do útero, mas não sabíamos que era no fígado até iniciarmos a operação na manhã de terça-feira", disse o médico Bruce Howard ao jornal Cape Argus.

Os médicos encontraram um pequeno espaço em que o saco amniótico (a "bolsa d'água") se conectava com a parede do fígado, através do qual conseguiram parir a criança.

Riscos

Os médicos foram obrigados a deixar a placenta e o saco amniótico dentro do fígado, já que a retirada deles iria pôr em risco a vida da mãe.

Eles acreditam que o organismo vai absorvê-los novamente.

O professor James Walker, da Fundação Britânica de Gravidez Ectópica, disse à BBC que gestações abdominais são muito perigosas.

"A mãe corre riscos imensos. Uma em 200 mulheres morre antes que se possa fazer qualquer coisa."

"O maior problema para o bebê é que ele não é protegido pela parede muscular do útero", completou Walker.

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